Certa vez escrevi que o Partido dos Trabalhadores, em terras da Parahyba, não foge à luta. Paradoxalmente, vez ou outra a sigla se transforma em um museu de grandes novidades, não observando que o tempo segue na retilínea estação da vida. Em linhas gerais, a agremiação está aberta para recuos e oferece flores a pessoas que no passado foram deveras cruel com a cartilha petista.
E assim, em anacronismo singular, fez o PT algo que parecia impossível na questão ética, pondo as movimentações políticas em primeiro lugar. A sigla reconduziu para seu berço esplêndido o ex-prefeito de João Pessoa e atual deputado estadual, Luciano Cartaxo. O fato esdrúxulo ocorreu em 2021, sob as bênçãos do Olimpo petista nacional.
Agora, outra bizarrice pragmática ocorreu. Os mesmos deuses do topo, talvez já com a memória falha, chancelaram o nome de Cartaxo como pré-candidato a prefeito de João Pessoa para o pleito vindouro. A definição se deu na sexta-feira (24), conforme apontou com exclusividade o portal Fonte83.
Contudo, para obter absoluta certeza, o Blog do Eliabe ouviu na tarde deste domingo (26) lideranças petistas da Paraíba, havendo a confirmação da decisão. O nome de Cartaxo foi catapultado em reunião coordenada pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, e com membros do Grupo de Trabalho Eleitoral do PT (GTE-PT).
Na esfera local, o grupo do PT, liderado pelo ex-governador Ricardo Coutinho, já havia emitido nota apoiando o nome de Luciano Cartaxo. No manifesto, que foi publicado em abril deste ano, residia na justificativa a defesa do nome do deputado, observando a legenda sobre a necessidade de ser representada “por quem tenha independência em relação aos governos estadual e municipal e que tenha chances reais e concretas de passar ao segundo turno e aí, no confronto direto de programas, práticas e pensamentos, vencer as eleições e governar”.
Hora de oficializar o ato
A deputada Cida Ramos, que também almejava a pré-candidatura, será informada nesta segunda-feira (27) pela Executiva Nacional sobre o que foi acertado pelo Grupo de Trabalho Eleitoral do PT. O mesmo rito oficial acontecerá com Cartaxo. Ambos participarão de uma reunião para oficializar a decisão.
As rusgas entre Ricardo e João Azevêdo; além do fator Cícero
Certamente, um dos fatores que implodiu a pré-candidatura de Cida Ramos está em um fato importante. Ela e seu grupo político defendiam uma aliança com o governador João Azevêdo (PSB), pondo a sigla do chefe do Executivo estadual como opção para ocupar a vaga de vice em uma composição com o PT.
Outro obstáculo está ligado ao compromisso firmado entre João Azevêdo e o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (Progressistas), que disputará a reeleição. Esses dois fatores foram determinantes para a escolha de Luciano Cartaxo. E nesse embate de forças, Ricardo Coutinho soube lançar sua flecha no calcanhar de Cida, como Páris atingiu Aquiles na guerra de Troia.
O que será usado contra Cartaxo na campanha
Além dos erros durante sua gestão à frente do Executivo de João Pessoa, os adversários de Cartaxo podem utilizar seu gesto pouco ético quando abandonou a sigla petista em notória fuga para não ser guilhotinado.
E aí eu explico: Luciano Cartaxo abandonou o barco petista em 2015, quando uma série de denúncias, hoje comprovadas inverídicas, partiram da outrora fortaleza chamada Operação Lava Jato. Nela, existiam denúncias pré-fabricadas que apontavam atos de corrupção realizados por líderes do partido, estando na batalha cenográfica do Armagedom figuras de proa como Lula e Dilma.
Disse o deputado estadual, na época, que sairia do PT para não afundar em “mar de lama”. Bem, saiu, e retornou após malabarismos na coxia petista. Mas, dentro do partido, muitos não suportam o cheiro de enxofre que exala dos vulcões da traição. Agora Cartaxo tem a missão de unir o PT paraibano para apoiá-lo no difícil processo eleitoral que se avizinha.
Por Eliabe Castor
