Blog do Eliabe Castor

Opinião: prefeito de Pombal “agride” Hipócrates e mostra preconceito aos que portam transtorno do espectro autista

Hipócrates (460 a.C.-377 a.C.) foi um médico grego, considerado o Pai da Medicina. Sendo ele o mais célebre em sua área de estudo na antiguidade e o iniciador da observação clínica, é cultuado em todo Ocidente até os dias atuais, dada  sua importância em tal ciência.

E para saudá-lo, existe o famoso juramento de Hipócrates, que resume sua ética e dedicação, promessa que ainda é recitada nas colações de grau dos estudantes de medicina.

A “pregação” diz o seguinte: “Prometo solenemente consagrar a minha vida a serviço da Humanidade. Darei aos meus Mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos. Exercerei a minha arte com consciência e dignidade. A Saúde do meu Doente será a minha primeira preocupação”.

Pois bem: os profissionais de medicina têm esse compromisso, cultuando a inviolabilidade do que foi assumido no término da sua graduação universitária. Porém, o prefeito de Pombal,   Dr. Verissinho (MDB), fugiu completamente dos preceitos que assumiu quando  recebeu da Academia o título de  médico.

E essa tão nobre profissão, maculada por Verissinho, foi posta à lona com outro agravante óbvio: é ele um gestor municipal. Chefe do Executivo de uma cidade sertaneja importante. E  mesmo se o município não tivesse relevância socioeconômico  aqui ou alhures, o prefeito e médico, em hipótese alguma, poderia expor uma convicção horrenda e desumana em público, ou mesmo em  segredos de alcova

Afirmou o gestor, em reunião realizada no início desta semana, ser uma “infelicidade” ter um filho com transtorno do espectro autista (TEA). E sua fala foi tomada como verdade por alguns dos seus aliados.

Em áudio trocado por duas mulheres, a monstruosidade  segue: “ É porque o povo  hoje tá cheio de besteira. Deus me perdoe. Um menino autista é um menino doido. E quem  quer ter um menino doido?”, indaga a aliada a outra outra pessoa, e segue sua  fala: “Tem essa não. É uma infelicidade, não uma felicidade”.

Mas há uma reação contrária nas redes sociais  à fala do prefeito e os que estão a apoiá-lo. O fato consola, mas  deve ir muito além da repercussão on-line. A Câmara dos Vereadores de Pombal, o Conselho Regional de Medicina  e o próprio Ministério Público precisam se pronunciar sobre o caso, pois não havendo tal atitude, penso, eu, ser pura  omissão desses órgãos.“Esquecer” o posicionamento do gestor é legitimar plenamente o preconceito.

Especialista sobre a declaração do prefeito

Ouvida pelo Blog do Eliabe, a psicóloga clínica Alice Santos, especialista em Gestão em Administração Pública e  Educação Especial, atuando na área da pessoa com espectro autista, reprovou a fala e pensamento do prefeito pombalense.

A profissional, em suas palavras, foi clara: “É no mínimo lamentável que em pleno 2024 nós tenhamos que presenciar uma fala que traz aí um tom de segregação, um tom de descriminação, e sobretudo um tom de desconhecimento por parte do gestor municipal do que se trata realmente o autismo. A gente tem hoje uma sociedade que avançou muito, no sentido da luta pela inclusão  das pessoas com deficiência. Das pessoas autistas. De fato ainda temos muito a alcançar, mas estamos hoje em uma sociedade onde o capacitismo é combatido através das políticas públicas, e ele, enquanto gestor, deveria fortalecer essa bandeira, fortalecer essa luta, e buscar uma sociedade muito mais inclusiva, muito mais igualitária para as pessoas com deficiências, sobretudo as pessoas com transtorno do espectro autista”, observou.

Mais à frente, Alice Santos complementou: “Na verdade ele (Verissinho) parece desconhecer do que se trata o autismo. Eu, enquanto profissional da Saúde, me sinto profundamente triste em ter presenciado tal fala. Eu, que atuo na área, que estudo e estou junta das pessoas autistas e das suas famílias, e sei da luta delas para acessar seus direitos e estar em pé de igualdade com as pessoas que não têm deficiência, não têm autismo. É muito triste presenciar uma fala tão capacitista. E o autismo  nada mais é que uma forma singular do indivíduo estar no mundo, do indivíduo se colocar no mundo junto às outras pessoas, e essa forma singular merece respeito, merece inclusão e luta em prol ao acesso a direitos”, definiu.

Agora, como disse antes, é esperar uma reação dos que integram a Câmara Municipal de Pombal, Ministério Público e Conselho Regional de Medicina para que falas como as do prefeito Verissinho sejam sepultadas, na busca de uma sociedade mais equânime, justa e sem preconceitos.

Utopia? Talvez! Mas lutar por dias melhores é sempre válido. Assim penso, logo existo!

 

Por Eliabe Castor

 

 

 

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