Blog do Eliabe Castor

Opinião: como é libertador escrever asneiras sérias

A madrugada é pálida. No birô que estou, aliás, meu notebook do pleistoceno, apóia-se em mogno amplo e seguro. Nele, quando criança, via meu pai – exímio datilógrafo – lapidar seus laudos intermináveis e observar os “clientes”, como ele me explicava sorrindo, lá no Banco do Brasil de Guarabira.  Dizia ele só para exterminar minha curiosidade: “Olhe, fulano comprou tantas vacas. O outro  fez ou não o açude? O empréstimo foi para os devidos fins…blábláblá?”. Claro que eu não entendia nada.  Mas ficávamos felizes.

Um grande homem meu pai. Tratava sua Olivetti sem dó ou piedade. Carbono, papel – plín! Onomatopeia perfeita para indicar que o dedilhar foi até o fim da folha e era hora do “troc” daquela manivela analógica mudar a linha. Ele  sempre lembrava, quando necessário, do travessão.

E aqui estou. Sem sono, lenço ou documento. Na mais perfeita ventania que balança as árvores que um dia meu irmão outrora plantou. Sede! Só um minuto. Vou beber água. Oi! Voltei. E percebi que havia deixado professor Ricardo Marcílio congelado na TV. Estava ele explicando o avanço da Ucrânia em terras russas. Gosto de geopolítica. Ninguém é normal. Imagine de perto!

Pois, pois, lusitanos além e bem além do meu mar, Pepe finda. Observo suas respirações cada vez mais finas. E volto a lembrar do meu pai. Foi ele em sopro quântico e divino, ou ao contrário, em 2016. Que saudade!

Pepe e ele. Uma dupla e tanto. Hoje é pet. Que seja. Para mim, ou Leverrier, o nome do meu genitor, era “meu filho”. Não eu. Nosso cachorro.  Um Shar Pei – a grafia deve estar incorreta – o Google tem variações – é da linhagem de Fofão – que o adquiri em 1992 após receber minha Poupex (a poupança do Exército) – após o período  obrigatório do serviço militar.

E agora vejo Pepe indo. Como uma das últimas lembranças vivas do meu pai. Não se preocupe. Ele está devidamente medicado. Sem dor. Dor só a minha. O que é natural.

Pepe me fez escrever

Faz um bom tempo que não escrevo. Para os intelectuais, um período “sabático”. Bem judeu, não é? E é! Mas pode ser colocado como  Shemitá – ou “libertação”.

E em um pulo de um pulo, resolvi escrever tal texto madrigal sem dama. Nada de política nesse momento meu e seu. Amanhã, talvez, faça uma coluna. E preciso, pois é meu pão. Mas  hoje é dia de Pepe  e meu pai. E por falar em ambos, eu vou, você vai, todos nós vamos um dia para o mar da história do esquecimento.

Mas que não seja em absoluto o esquecer de outros. Veja! O mogno que apoia meu neanderthal not faz toda minha mente lembrar da infância, adolescência, fase adulta. Meu pai. Pepe. Filhos. Tudo. Um chiclete Plock. O perfume de alguém que já se foi de forma prematura. O Flamengo campeão do mundo.

Sim! Assisti. Eu e meu pai. Era madrugada. Foi incrível. E esse mogno  decapitado e enviado para uma repartição foi feliz. Ele e outros tantos “viram” e sentiram muitas fotossínteses. Nutrientes na linha do tempo.

Ah! Nada é tão bom e revigorante que escrever sem o menor compromisso. Afinal, viver é morrer, então, se morremos, vivemos. Correto? Silogismo barato da feira  amada de Campina Grande? Não sei! Pergunte a Ariano, que sabe mais que Chicó!

Por fim, lembrei do Grande Alexandre! Pausa. Só espiar Pepe. Talvez ele sobreviva! Eita! Dorme e respira sem dor. Alívio.

Retornando! Vamos dia desses para a física quântica do além. Como o “Bêbado e o Equilibrista”, partiremos tal qual “Henfil. Com tanta gente que partiu. Num rabo de foguete. Chora a nossa Pátria, mãe gentil. Choram Marias e Clarices No solo do Brasil”.

E sigamos Alexandre. Quase esqueci dele!

Suspense e música dramática nos tímpanos para ouvir a escrita.

Alexandre o Grande havia deixado claro qual o seu desejo, após sua morte.

  1. Que seu caixão fosse transportado pelas mãos dos médicos da época;
  2. Que fosse espalhado, no caminho até seu túmulo, todos os seus tesouros conquistados como prata, ouro e pedras preciosas ;
  3. Que suas duas mãos fossem deixadas balançando no ar, fora do caixão, à vista de todos.Um dos seus generais, admirado com esses desejos insólitos, perguntou a Alexandre quais as razões desses pedidos e ele explicou:
  1. Quero que os mais iminentes médicos carreguem meu caixão para mostrar que eles NÃO têm poder de cura perante a morte;
  2. Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros para que as pessoas possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem;
  3. Quero que minhas mãos balancem ao vento para que as pessoas possam ver que de mãos vazias viemos e de mãos vazias partimos.

E Pepe respira e o pulso ainda pulsa.

Até minha angústia passou!

E por fim, lembrando meus tempos de “Menino de Engenho”, que só conheci na adolescência com Zé Lins;

“Entrou por uma perna de pinto e saiu por uma perna de pato”. Quem não gostou reclame ao Rei e conte até quatro!

 

Eliabe Castor

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