Blog do Eliabe Castor

Opinião: politizar a morte da jovem Juliana Marins é ato irresponsável e desumano

O ar rarefeito pressionava seus pulmões. Mesmo assim, ela seguia resoluta na busca de mais uma conquista. Solo vulcânico traiçoeiro, uma trilha perigosa a dormir em altitude elevada. Uma simples parada para o descanso e foi abandonada por uma “comitiva” aventureira que ela não conhecia.

Sentou-se sobre cinzas, lava resfriada e fragmentos rochosos expelidos durante erupções. Alheia aos perigos, somada à negligência dos agentes locais de turismo, o Monte Rinjani a tragou para uma descida mortal. Um tombo, visão turva, solo escorregadio, névoa cega, não importa. Juliana Marins está morta.

Uma corda diminuta foi lançada para alcançá-la. Amadorismo ou falta de empatia com o próximo? Outros fatores que levaram uma jovem que inspirava e transpirava vida a ter sofrimento inimaginável em uma busca inglória para manter seu sopro vital no plano terreno.

Nenhum socorro. Esqueceram os drones que, em guerras, são equipados para ceifar vidas. Bastava um deles com  água, suprimento básico para uma alimentação de sobrevivência, manta térmica e aguardar o socorro, mesmo que ineficiente, chegar e pronto! Estaria ele de volta à família, aos amigos e ter um caminho longo e promissor nessa terra de meu Deus.

Agora está ela gélida, imóvel  em uma rigidez cadavérica sem retorno. O coração já não pulsa, e ficam seus sonhos na memória de todo o país. E para piorar esse quadro trágico, muitos transformam esse evento surreal, inadmissível de ocorrer, em ato político.

Boa parte da população brasileira invadiu as redes sociais para protestar contra a quase inerte Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia  e a postura do presidente do país, Prabowo Subianto. E nesse ponto há motivos para protestos, perguntas e respostas.

Contudo, uma banda que não é de maçã ou de reggae, mas sim uma turba em movimento de desordem passa a culpar a figura do presidente da República, Lula da Silva, por não ter sido mais proativo na busca de soluções que preservassem a vida da jovem.

Porém, na minha percepção, pouco o governo brasileiro foi capaz de fazer – realizar – ações de forma efetiva por estar condicionado às regras internacionais burocráticas. O  Itamaraty era a única solução e esperança para pressionar a cúpula do poder indonésio a salvar Juliana.

E  aqui não estou a ser passional, parcial ou imparcial. São reflexões próprias do meu ser. Do eu que está no meu “eu”. E agora um novo capítulo se instalou. E mais críticas para quem está à frente do Palácio do Planalto. O translado do corpo de Juliana Marins não pode ser custeado pelo Governo Federal.

Uma lei  esdrúxula e desumana impede o Estado brasileiro de realizar tal ato de humanidade. E não há como ir contra a lei, é fato. Agora vem outro ponto: a população tem todo o direito de exercer sua sagrada expressão, indignação e afins.

Porém, os  legisladores não, afinal são eles que aprovam as leis, o Executivo, como o próprio nome diz, as executa. Mais um palanque, em véspera de ano eleitoral, mesmo que mórbido, foi armado, o que mostra, ainda mais, a falta de empatia de alguns para com a tragédia aqui mencionada.

Por fim, a prefeitura de Niterói custeará o translado de Juliana Marins para o Brasil, e nessa mesma cidade seu corpo será velado e sepultado. O custeio provavelmente virá de recursos próprios do município fluminense, o que se configura como ato legítimo e legal.

Que a jovem venha a ter seu repouso eterno, rogando eu e milhões o consolo divino para seus familiares, amigos e os de bom coração nessa terra chamada Brasil. Para os que tentam, a fórceps, implantar discurso de ódio ante uma dor que, direta ou indiretamente estamos a sentir, informo que tal postura é ato irresponsável e desumano.

Eliabe Castor

 

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